Com Nuno Crato

Tivemos outro workshop pedagógica - organizado pelo o grupo do qual eu faço parte - "A Comissão Pedagógica do DEG". Antecipando o evento, fiquei com o coração algo pesado - ficaríamos sentados em filas a ouvir alguém a expor, mais uma vez, sobre a importância de não expor e da importância de trabalhar em grupos pequenos ...

Mas não. Gostei muito da intervenção do primeiro orador Nuno Crato. Gostei o seu estilo e a maneira em que ele mostrou experiência suficiente - e peso académico - para fazer um discurso do género "jornalístico provocador" em vez do tal seca de "académico pontifical".

Ele começou com uma descrição da sistema mais flexível que ele encontrou nos Estados Unidos, onde as universidades abrem as portas para todos mas organizam disciplinas para as pessoas que não tivessem o nível exigido para participar na licenciatura. Por exemplo - se há alunos sem base em matemática, a universidade oferece um curso para dar as bases de matemática. (Fiz me lembrar do sistema em Inglaterra da "Open University" - aberto ao todos, só demora mais tempo para algumas do que os outros.)

Concordei completamente com as suas reservas acerca das "competências" - uma palavra que colar na minha garganta. A palavra está na moda - mas, as vezes, sinto que faltar cultura, imaginação, criatividade, desafios, relações, abstracções .... e todo o resto que dar à vida o sentido para viver! Mas por outro lado creio que a palavra, competência, tem sido útil em repensar um Ensino Superior tão esotérico que ficou só para uma pequena minoria os privilegiadas em vez dos cidadãos participantes do mundo do século XXI. (Eu preferia a palavra novas literacias mas isto fica para outro conversa.)

Como sempre, não percebi a utilização de expressão "aplicada". Nunca percebi bem este distinção entre uma disciplina “teórica” e uma disciplina "aplicada". A noção de uma disciplina aplicada deve derivar de uma epistemologia onde o conhecimento é representado como factos objectivos e "o mundo verdadeiro". Neste caso as praticas são melhoradas através da aplicação do conhecimento científico. Talvez faça mais sentido na área de matemática. Ele diz que nada pode ser uma competência sem conhecimento, e por isso percebi que não estava a questionar um epistemologia positivista/empiricista, mas sim a criticar "aplicada" enquadrada neste epistemologia,

Para mim, a palavra "aplicada" fazia mais sentido se for a palavra "contextualizada". Nuno deu o exemplo de Historia como uma disciplina que obviamente não faz sentido ser "aplicada". Fiquei a lembrar as minhas aulas de Historia na Escola (em Quénia). O professor, muito diligente, ensinou o "Industrial Revolution", "Victorian England" etc. Ele podia ter falada em chinês - as palavras dele não significam nada no nosso contexto - nem em termos de arquitectura, relações familiares, valores nem ... nada. Se as aulas tivessem sido mais contextualizadas (aplicadas?) e tivessem ajudamo-nos a perceber a história do nosso actual universo, tenho certeza que ficávamos com alguma estrutura mais sólido para pendurar as outras histórias do mundo. Assim, fiquei sempre um pouco desenquadrada com a disciplina de historia. Cheguei à conclusão que a mesma matéria, podia ter sido perfeitamente bem contextualizada (aplicada?) para alguns pessoas (por exemplo, alunos na Inglaterra) enquanto não é aplicada para outros (como nós na Quénia)!

Finalmente, "ensino centrado no aluno". Como Nuno, nunca foi um conceito que me convenceu completamente. Interesse-me só porque reorientou ensino do senhor doutor professor para aprendizagem aos alunos. Mas não tive coragem para levantar a minha mão quando ele fez a pergunta - em voz incrédulo - se havia alguém que não tive por objectivo levar todos os alunos para o mesmo sitio. SIM - confesso! Eu sou uma destas pessoas. Mas deixo isso para outro conversa ...

A sua intervenção fez me lembrar que não é possível fazer generalizações. "Expor" está fora da moda em termos pedagógicos mas é sempre bom assistir uma pessoa que consiga criar dialogo (no meu caso - um dialogo interno) através da sua exposição.

Obrigada, Nuno, pelo dialogo!